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terça-feira, 19 de maio de 2009

Eduardo e Mônica

Livro inspirado na música Eduardo e Mônica, da banda Legião Urbana


Capítulo 1


Eu nasci no dia 26 de junho de 1958, filho de Marta Souza Preões, que era filha de Carmem. Minha mãe não tinha irmãos e junto com minha avó se mudou para Brasília, que tinha sido inaugurada, no dia 21 de abril de 1960, pelo governo de Juscelino Kubitschek. Lá junto com o meu padrinho, senhor Segismundo Fahar, este preferia ser chamado de Mundo. O que não deixa de ser verdade, já que ele conhecia o Brasil como a palma da mão. Do meu pai, cresci sem ele, este faleceu antes de eu nascer. Se chamava Fernando Queiroz. De como ele morreu não tenho muitos detalhes. Meu padrinho faleceu quando eu tinha sete anos num acidente de carro, não se casou, não teve filhos, gostava de ser solteiro. Isso eu aprenderia com ele, a viver assim, mas como não existe razão para o coração, conheceria Mônica, teria dois filhos lindos com ela, uma casinha simples, de dois andares, amarela e com um fusca.


Mônica – 1969 – Aos 15 anos


Mônica era a menina mais desejada de Anápolis, sabia dançar rock como ninguém, gostava dos Mutantes, e pertencia a alta classe anapolisense. Ela era loira, de olhos verdes, tinha um nariz arrebitado, magra, e a chamavam de Olívia Palito.
- Vamos entrar no carro broto?
- Um Chevet 55. – Ela vira o copo de wísky.
- Estou doido para ficar sozinho com você.
- Você me prometeu que estaria em casa antes das dez – ela acende um cigarro – Tenho que ir pra casa se não papai e mamãe vão ficar preocupados.
- Pare de ser sonsa garota! – joga o cigarro dela no chão.
- Você bebeu demais Marcos. Rô, vamos pra casa.
- Mônica eu não vou pra casa agora.
- Daqui a pouco a polícia baixa aqui.
- Vai só querida. – ela beija um rapaz na lambreta.
- Vamos relaxe, entre no clima. – ele a beija.
Saem juntos Roberta e Celso, deixando-os sós.
- Estou com frio!
- Mais um motivo para entrarmos no carro.
- Está bem.
Eles entram, se beijam, e ele suspende a saia de Mônica.
- Não Marcos!
- Você quer.
- Marcos, quero sair! – ele beija o pescoço dela – Pare Marcos! – ela o empurra, ela tenta abrir a porta – Abre o carro, Marcos.
- Não abro.
- Eu não estou gostando nada disso.
- Temos um ano de namoro broto.
- Eu não quero!
- Deixe de ser tonta, você sabia o que poderia acontecer, quando topou vir para cá – ele segurando o queixo dela.
- Você está me machucando.
Ele vai beijá-la.
- Não, eu vou gritar.
- Ninguém vai te escutar. – ela o morde – Sua cadela! – ele dá um murro nela.
- Socorro, pelo amor de Deus, me ajude!
Ela quebra o vidro.
- Não, pare!
- Quietinha.
Ela numa maca acaba de acordar.
- Já está feito o serviço, você não vai ter um filho daquele marginal.
- Estou enjoada!
- É normal – o médico diz.
- Quero ir embora daqui, desse lugar imundo.
- O marginal fugiu.
- Já dá para saber o sexo da criança?
- Não, vamos para Brasília.
- O que vou fazer naquele inferno?
- Pensava nisso antes.


Eduardo – 1970 – Aos 18 anos


Num prédio junto com outros rapazes, fumando e bebendo, comemorando o tricampeonato brasileiro. Chega uma moça e o beija.
- Alice. Quer? – ele enrola uns cigarrinhos.
- Não, obrigada!
- Vamos sair daqui. Eu pensei melhor. – ele cheirou o pó.
- Sabia meu bem! – ela o beija – Eu tinha certeza que você iria querer essa criança, só ficou preocupado por estar desempregado, e você não querendo que o seu pai soubesse, eu tenho certeza que ele vai adorar ser avô.
- Vem comigo.
Eles entraram no quarto, se beijaram, e transaram.
- Aqui o wísky para comemorarmos.
Ela bebe.
- Já contou a seus pais?
- Não, estou com medo.
- Não tenha, eu estarei sempre ao seu lado – ela o abraça – Ah! Estou me sentindo mal, chame um médico, Eduardo.
- Quem disse que vou chamar meu amor?
Ela caiu na cama com a mão no pescoço.
- O que você fez? – ela chorando, ela caiu da cama.
Ele se aproxima dela, certifica-se se ela está morta e fecha os olhos dela. Tira do bolso da calça umas cápsulas, e começa a chorar, encosta-se na parede e se agacha.
- Eu não queria fazer isso... Eu juro que não queria.


Capítulo 2
Na minha casa, ninguém ia à igreja aos domingos, não havia imagens, terços, bíblia, não se agradecia pelo alimento do dia, como as outras famílias da época.
- Desligue o rádio minha filha. Não tem outra notícia a não ser esse golpe.
- Jango não devia ter fugido como um covarde.
- Se exilou no Chile.
- Mãe, por que a senhora não tem fotos do papai?
- É melhor você dizer a verdade.
- Não. – ela chorando.
- O seu pai fugiu com outra mulher, quando soube que sua mãe pegou barriga, desgraçou a minha filha.
- Nunca mais tiveram notícias dele?
- Chega! – a minha mãe bate a mão na mesa – O seu pai está morto e enterrado.


Mônica – 1966 – Aos 12 anos


Mônica conheceu Sérgio aos 12 anos, eram do mesmo signo, leão. Planejavam ter dois filhos, envelhecerem juntos. Ele era mais velho que ela só um ano.
Se conheceram no colégio, trocaram telefones. Ele jurava amor eterno a ela e vice-versa, mas ele era paulista, o pai corretor de imóveis.
Ela sabia que um dia poderia o perder, este dia tinha chegado.
- Eu juro que nunca vou te esquecer.
Ela tira uma correntinha do bolso da calça.
- É uma medalhinha de Nossa Senhora Aparecida. – ela chorando – Toda vez que você olhar para ela, vai se lembrar de mim.
- Meu coração vai ficar. Eu juro que volto para lhe buscar. – se beijaram.
- Vamos, Sérgio. – o chamam.
Eles de mãos dadas, se soltam devagar, ela coloca a mão no rosto.


Eduardo – 1960 – Aos 8 anos


Ele está estudando, entra uma mulher.
- O seu pai ainda não chegou?
- Não.
Ela tira a blusa, deita na cama.
- Vem cá!
Ele sobe na cama, ela beija o pescoço dele, e o beija e coloca a mão por debaixo do short dele.


Capítulo 3


Eu aos 12 anos já me encontrava na sétima serie, foi lá que conheci Amanda, ela era branca, cabelos castanhos, que iam até a cintura, tinha olhos também castanhos, bem alta para a idade e filha de um casal de jornalistas.
Me tornei colega dela, já tinha dois anos que estudávamos juntos, mas tinha medo, porque ela gostava de repetir para mim, o que era um martírio.
- Você para mim é como um amigo.
Ela me matava, falando essa frase sorrindo.
Num dia, eu e ela fomos participar de verdade e conseqüência, no pátio da escola. Elton que era o líder do grupinho, apesar de não ser o mais inteligente.
- Se não quiser responder, a conseqüência será beijo de língua.
- Está bem, agora sente-se Elton. – fala Sílvio, um outro colega meu gordinho e baixinho.
-Gire logo essa garrafa. – fala Alexandra, esta era inteligente, usava óculos.
- Está bem! – Elton gira a garrafa.
- Alexandra para Amanda.
- Com qual dos professores você gozava?
- Eu não posso responder.
- Então conseqüência. – fala Elton.
- Ah! Eu não vou beijar Amanda. – fala Alexandra.
- Responde ou não responde? – pergunta Elton.
- Não respondo.
- Então conseqüência. – ela aproxima-se de Alexandra e a beija rápido.
- Pense no lado positivo, quando vocês tiverem os seus filhos vão poder contar essa história e não vão ser chamadas de caretas. – fala Sílvio.
- Pelo menos depois disso, tenho certeza que sou heterossexual. – fala Amanda.
- Gire essa porcaria logo, Elton. – fala Alexandra.
- Sílvio para Alexandra.
- Você já se masturbou?
- Sim.
- Com o quê?
- Só uma pergunta, querido.
Ele gira.
- Pronto, agora responde.
- Com uma banana nanica.
Todos começaram a rir.
- Se vocês não pararem, vou embora.
Elton gira de novo.
- Eduardo para Amanda.
- Quem você levaria para uma ilha deserta?
- O meu primo.
- Gire a garrafa Elton. – fala Sílvio.
- Amanda para Eduardo.
- E quem você levaria para uma ilha deserta?
- Eu não quero responder.
- Então conseqüência. – fala Elton.
- Eu não posso beijar Eduardo.
- Por que não? – pergunta Elton.
- Ele é meu amigo. – ela beija Eduardo. – Já vou para casa. Edu vem comigo?
Elton me olha.
- Eu tenho que acertar um trabalho com Elton.
-Vem comigo Alexandra?
- Eu tenho que fazer uma pesquisa na biblioteca, antes que feche – ela se retira.
- Eu vou com você Amanda. – fala Sílvio.
- Tchau, Elton! Até amanhã, Eduardo!
Se retiram.
-Você não pode fazer tudo o que ela pede, como um cachorrinho dela.
- Ela nunca vai me olhar como homem.
- Porque ela não te merece, Alexandra é gamada em você.
- Não pode ser, ela só pensa em estudar e é minha amiga.
- Você está se comportando como Amanda.


Capítulo 4


No final do ano, como muitos estavam com o pescoço na corda da forca, os professores costumavam passar trabalhos para terem as benditas férias no final do ano.
Foi passado um trabalho de história, a disciplina que eu mais gosto, apesar do meu professor, senhor Leôncio, ser totalmente execrável, também brincávamos, porque nessa época estava passando a novela “Escrava Isaura”, e o personagem que perseguia a pobre escrava branca, era Leôncio.
Eu como não costumo me atrasar, meia hora antes do marcado, já estava na casa de Amanda.
- Entre Eduardo, e sente-se.
- Eduardo. – a mãe de Amanda diz – Já tem várias semanas que você não aparece.
- Eu não queria incomodar.
- Não é incomodo nenhum, até um gosto.
- Assistiu ao jogo da Seleção?
- Assisti.
- Dois gols do Pelé e Rivelino. Aqueles rapazes valem ouro. – era o pai de Amanda.
- Aqui os materiais.
- Já sabe a profissão que vai seguir meu rapaz?
- Advogado. - fiquei com vergonha de dizer que queria ser professor.
- Boa profissão!
- Eu pensei que você queria ser historiador Edu.
- Mas eu pensei melhor, Amanda. – sorri.
- Amanda quer ser jornalista, mas eu estou tentando tirar isso da cabeça dela. É uma profissão arriscada... – a mãe de Amanda começa a chorar – principalmente nesse inferno que estamos vivendo. Já almoçou Edu?
- Já, Dona Eliete, obrigado!
- Você é um rapaz inteligente, esforçado e bom filho, a profissão que você seguir, você vai se dar bem.
- Eu tenho medo do futuro, senhor Jorge.
- Já está pronta Eliete?
- Já. Vocês não se incomodam de ficarem sozinhos?
- Não. – ela beija a filha.
- Se eu demorar, ligue para o seu tio.
- Sim mãe. – eles se retiram – Eu sempre me pergunto se vão voltar. – ela sentou-se.
- Alexandra que sempre vem cedo, ainda não chegou.
- Eu posso te contar uma coisa Edu?
- Sim.
- Você gosta da Alexandra?
- Por quê?
- Ela é louquinha por você.
- E você está apaixonada? – tomei a coragem de perguntar.
- Por quê?
- Você está faltando muitas aulas e eu como seu amigo...
- Acho que eu posso contar para você, eu confio em você. Eu estou namorando um rapaz da oitava série.
- Seus pais sabem? – eu me controlando para não chorar.
- Não. Você é o primeiro a saber, eu me sinto tão bem perto de você, você nunca me repreende, sempre disposto a me ouvir.
Chegam Alexandra e Sílvio.
- Compraram a cartolina? – pergunta Alexandra.
- Ai, esqueci! Espere que eu vou comprar. – fala Amanda.
- Eu vou com você.
- Ai Edu, você é tão fraquinho, eu tenho medo das ruas. Se você quiser vir comigo e Sílvio, mas é preferível que você fique aqui com a Alexandra. Talvez você corresse e me deixasse ser levada pelos policiais.


Mônica – 1972 – aos 18 anos – São Paulo


Mônica ao chegar à maioridade foi procurar Sérgio, o primeiro amor. Aquele que dizemos que nunca vamos esquecer.
Ele estava morando na Avenida Paulista, e era dono de uma loja de roupas.
Ela toca a campainha, abre a porta uma moça escura com os cabelos trançados e dona de uns olhos verdes sedutores, enrolada num roupão.
- Sérgio está?
- Quem gostaria?
- Uma amiga dele.
- Amor! – ela chama Sérgio.
Sérgio aparece vestido com uma calça jeans, sem camisa.
- Quem é você?
- Não se lembra de mim?
- Não me recordo agora.
- Eu sou a Mônica...
- Mônica.
- Eu vejo que você reconstruiu a sua vida. – ela chorando.
- Você acha que um amor de adolescente iria sobreviver depois de nós adultos?
- Você me jurou amor eterno, planejamos um futuro juntos.
- Não se pode planejar o futuro numa época como essa.
- Eu fui idiota em vir aqui. – ela vai se retirar.
- Espera. Onde você está hospedada?
- Não se preocupe comigo.
Ela vai descendo as escadas e ele fecha a porta.


Eduardo – 1980 – aos 27 anos


- Onde você passou a noite? – Era o pai de Eduardo, senhor Paulo Cunhão.
- Com os amigos.
- Se drogando.
- Não fale assim comigo, como se eu fosse um adolescente.
- Então se comporte como homem!
- Um dia fujo de casa.
- Não vai sobreviver nem um mês, já que nem trabalho tem.
- Esta casa está um inferno!
- Foi sua mãe que te deixou assim.
- Nunca diga que ela foi a minha mãe!
- Você puxou a ela. É desequilibrado como ela. Já tomou o seu remédio?
- Não tomo mais aquela porcaria! Nem mais apareço naquele consultório.
- Por que Ana foi morrer? Foi você que a matou.
- Eu até gostaria.
- Você não tem coração!
- Eu já disse, não fale assim comigo!
- Eu falo assim, porque sou eu que te visto, te sustento e te dou teto para você morar.
Ele se retira da sala e vai para o seu quarto.
Eduardo coloca a mão na cabeça e vêm as lembranças dos xingamentos da mãe. “Você não presta”, “Vagabundo”, “Vadio”, “Tomara que morra, para ver que eu te amo, seu puto”, “Não vai se livrar de mim, porque eu sou a sua mãe e você depende de mim”.
Ele levanta, “O seu futuro vai ser tenebroso”, abre uma gaveta “O que você fez?”, pega a arma, coloca as balas “Você é melhor que seu pai, seu puto”. Se dirige ao quarto do pai e atira quatro vezes. E o pai de costas para ele, não vê que seu filho é um assassino.


Capítulo 5


Eu, Elton, Alexandra, Sílvio e Amanda fomos assistir a um filme de faroeste, ainda me lembro que Amanda detestava esses tipos de filme, por causa das mortes dos índios que eram postos como vilões nos filmes. Eu acho que assistíamos as Bonas Day.
Eu sentei ao lado de Amanda, ela comia pipoca e eu perdia o tempo para ver o rosto dela. Havia dois policiais na sessão.
- Os sentinelas do inferno chegaram.
Era assim, a partir daquele dia, que ela denominaria os homens que participaram daqueles vinte anos, que todos brasileiros que viveram isso, gostariam de esquecer.

*****

- Vamos combinar uma coisa, se um de nós morrer primeiro, trate de passar no inferno e nos avisar se é bom ou não lá. – fala Elton.
- Pra mim está combinado. – diz Sílvio.
- Eu não sei para quê combinar isso, quando morrermos vai está tudo acabado e nós debaixo da terra. – falei, uma opinião de um ateu.
- Mas não custa nada prometermos isso. – fala Elton.
- Eu vou morrer antes de vocês.
- Por que você está falando isso?
Pergunta para mim Sílvio, mas chegam Amanda e Alexandra.
- Edu você vai ao show hoje no qual todos os estudantes estarão para pedir um basta contra a ditadura militar?
- Não sei.
Alexandra nem imaginava que no show seria alvo de uma bala perdida.
Ela se retira junto com Amanda.
- Alexandra está namorando. – fala Elton depois que Sílvio se retirou também.
- Bom pra ela.
- Você fez a menina pagar o maior mico do colégio.
- Mas eu também não pedi que vocês bancassem de Cúpido.
- A idéia foi de Amanda.
- Deixar a menina na sala a me esperar, para nos beijarmos.
- Ela chorou naquele dia.
- Se eu a beijasse estaria mentindo para mim mesmo. Seria tão fácil se gostássemos de quem gosta da gente.
Na minha frente aparece Amanda beijando o rapaz da oitava série.

*****

Estava num prédio desativado, aonde costumava ir, quando estava triste.
Eu era um monstro, não tive a oportunidade de pedir desculpas a Alexandra pela humilhação que a fiz passar. Amanda nunca me notaria como homem, acho que não tenho qualidades. Nem a consolação que Deus escreve certos por linhas tortas eu tinha, já que não acreditava nele.
Eu tinha que ter a coragem de me ter jogado do prédio naquele dia, mas não conheceria Mônica..., mas ela também não sofreria como está sofrendo agora.
Mas sempre fui tanso para pensar, eu era muito frívolo quando adolescente. A sorte é que tinha um amigo como Elton.
- Eu sabia que te encontraria aqui.
- Seria melhor o mundo com um fracassado a menos.
- O mundo perderia uma grande pessoa, você faria sofrer muitas pessoas, Alexandra entende onde ela esteja.
- Você só fala isso só porque eu não acredito em Deus.
Ele me abraçou e eu chorei naquele dia. Amanda nunca mais soube noticias dela, eu acho, me arrependo de não ter dito o quanto eu amava. Dois anos depois, ela e os pais se exilaram em Portugal. A década de setenta, a década de ostracismo para muitos.


Capítulo 6


1974
Eu estava andando de patins pelas ruas arborizadas de Brasília, quando tropeço e sou atropelado por uma bicicleta, e caí como uma jaca no chão.
Era noite e eu vi a lua, depois o rosto mais bonito da face da Terra, vi o relógio que ficava perto da Praça dos Três Poderes, eram 22 horas.
- Desculpa. – ela me ajuda a levantar me dando a mão.
Eu seguro e levanto.
- Obrigado!
- É a primeira vez que derrubo alguém e essa pessoa me agradece. Me chamo Mônica. – ela oferece a mão.
- Eduardo. – nos damos à mão.
- Engraçado.
- O quê?
- Tenho a impressão que já vivi isso.
- Eu também.
- Aceita um café?
- Café tira o sono.
- Depende de que horas você tenha que dormir, se não podemos tomar birita.
- Eu não estou legal. Não agüento mais birita.
Mônica riu.
- Eu aceito o café.
Quando chegamos ao café.
- Você tem quantos anos?
- 16.
- Nossa! Você parece ter 12.
- E você?
- 20.
Silêncio, ela volta a me interrogar.
- Por que você disse que estava cansado de birita?
Chega a garçonete.
- Dois capuccinos quentes.
- Um colega do meu cursinho de inglês disse que tinha festa legal para a gente se divertir. Mas era uma festa estranha, com gente esquisita, eu não dancei e tomei mais de vinte copos, acho...
- E decidiu patinar às 22:00?
- Sim.
- Estou meio tonto, são quase duas, tenho que ir para casa, se não vou me ferrar, vou terminar dormindo na rua.
- Mora com os pais?
- Meu pai não conheço e minha mãe já é falecida.
- Lamento. Então mora sozinho.
- Não, moro com um amigo, ele é funcionário público.
- Eu tento passar em concurso público, faço teatro com uns amigos. – ela tira um cartão do bolso da calça e me entrega – Aqui o endereço. E estou no quarto semestre de medicina.
- Pretende se especializar em quê?
- Cardiologia, eu sempre sonhei em ser Deus.
- Eu quero ser professor de história.
- Legal... Você disse que faz cursinho de inglês.
- É.
A garçonete chega com o café.
- E você mora com os pais?
- Não, são divorciados.
- Lamento.
- Que nada, o ser humano é livre, eu não sei por que o homem criou o casamento.
- Mas é tão lindo a união de dois seres que se amam.
- Já vi que você é diferente dos outros homens. – ela sorri – Eu gosto de conhecer pessoas diferentes.
- Eu estou desempregado.
- A situação está difícil para todo mundo.
- E pior que é.
- Ainda estuda?
- Concluo esse ano.
- E o seu amigo tem a mesma idade?
- Não, já tem 18, fez supletivo para o segundo colegial.
- Você já veio aqui?
- Não.
- O café daqui é uma porcaria, não é?
Ela fala baixo isso e eu sorrio.
- Já vou indo.
- Quando nos encontramos de novo?
- Me dê seu telefone.
Ela anota num papel e me entrega.
- Vê se me liga mesmo. Eu estarei amanhã na frente do palácio da Alvorada, participando de uma manifestação. Se quiser aparecer...
- Vou ver.
Eu me retirei, a deixando sozinha com o dinheiro para pagar o café. Cheguei em casa, Elton estava a minha espera.
- Isso é hora de chegar rapaz.
- Eu conheci uma garota.
- Na festa?
- Não, eu deixei o meu colega só lá.
- Bonita?
- É interessante, é loira de olhos verdes.
- Marcaram encontro?
- Ela vai estar amanha numa manifestação em frente ao Palácio da Alvorada.
- Você vai?
- Não sei. Você acha que eu devo ir?
- Claro. Eu só não vou, porque vou trabalhar.
- Eu não esqueci Amanda.
- Mas ela já deve ter te esquecido.
Tomei a coragem e apareci na manifestação, ela estava ao lado de uma moto.
- Você veio.
- É, vim.
- Venha. – ela pega na minha mão e começa a gritar com os outros – Abaixo a ditadura!... Abaixo a ditadura!
A manifestação era contra a posse de Ernesto Geisel, a polícia não baixou no local e marcamos outro encontro no Parque da Cidade, já que ela queria assistir a um filme do Godard e eu ir para uma lanchonete, ela apareceu com tinta no cabelo nas cores verde e vermelho. Ela olha a bandeira.
- O nosso hino e a nossa bandeira são as mais bonitas, que pena que a frase “Ordem e Progresso” não combine com o momento que estamos vivendo.
- Você esqueceu de falar do futebol.
- Geisel vai visitar os paises aonde tem brasileiros exilados, jogada política, tenho esperança, sou otimista infelizmente, o país vai sair dessa, o cerco está se fechando. O Brasil não vai levar essa, o time da casa está sendo chamado favorito, os alemães com o seu muro da vergonha. O Brasil tricampeão caiu como uma luva para as aves de rapina, mas desta vez não vão ter a mesma sorte.
Ela tinha razão o Brasil perderia nas oitavas de final contra a Holanda.
- Vamos para onde?
- Para um bar.
Entramos num bar que estava vazio.
- Dois copos de tequila com gelo.
- Você vai beber em pleno sol a pino.
- Tem medo do que eu posso fazer?
Chegam os copos, ela entrega um deles, começa a tocar uma música dos Mutantes.
- Adoro essa banda! – ela vira o copo.
- Chamam Rita Lee de a ovelha negra das famílias brasileiras.
Ela sobe na mesa, eu sento num banco. Ela começa a fazer strip-tease.
Ela rebola até o chão, e naquele dia eu tinha notado a linda mulher que tinha na minha frente. Ela lambe o meu rosto e tira o meu cinto, e o coloca atrás do seu pescoço. Ela já estava só de calcinha e com uma blusa.
Ela tira a blusa, chegam dois policiais, ela tapa os seios com as mãos, olham para ela e depois para mim e se retiram. Ela começa a rir.
- Você rir, poderíamos ser presos.
- Deviam ter pensado que eu era uma puta libertina.
Eu a ajudei a descer, mas ela vomita na minha camisa.
Eu a levei para casa.
- Ai que vergonha, me deixa lavar a sua camisa.
- Tenho que ir.
- Obrigado. O sanduíche está bom. – ela abre a porta e me dá um selinho e me retirei.

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