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domingo, 9 de agosto de 2009

O Universo de um instante - capítulo 5


Salvação
1
Mais um dia doloroso para a familia Nunes. Todo domingo, Alice prometia ao pai que faria para janta churrasco, seu prato preferido, na esperança de que ele fique ao menos um dia do fim de semana com ela. Mas a meses isso não acontece: os fins de semana de Alice se resumem em chorar quieta em seu quarto enquanto nada mais importa a não ser rever aquele homem tão importante em sua vida. Amanhece e ela toma uma decisão que mudaria a sua e a vida de outras pessoas: hoje veria seu pai, não importa o que custe.
Sua mãe a chama para que a ajude com o jardim, enquanto planta mudas de carvalho, araçá e erva-mate. Madalena era madura e atraente, uma mulher forte que despontava em seus 30 anos. Em sua cabeça, um lenço verde da cor de seus olhos embrulhava seus cabelos crespos de modo que a fazia parecer uma descendente negra de italianos. Apertava firmemente uma pá com suas mãos delicadas, quando viu sua filha dirigindo-se a ela, ainda mastigando o que fora um breve café da manha.
- Filha, faz um favor. Pega essa muda e coloca nesse buraco que a mãe cavou.
- Coitadinha da muda, só por que ela não fala a senhora vai enterrar a pobrezinha. - Disse Alice, em um tom irreverente que certamente puxou de seu pai, e que foi o que fez Madalena se apaixonar por aquele homem, ausente nesse momento importante. A mulher demorou um instante para entender, pousou a pá e riu abertamente, virando o rosto para cima, para que sua filha não visse que lágrimas brotaram em seus olhos. Alice achava que sabia que estava sendo difícil para a mãe.

Mas ela não fazia a menor idéia do quanto.

2
Duas pessoas se encaravam em um parque. Nenhuma delas pode ou quis contar quanto tempo eles ficaram imóveis olhando um para o outro. Uma sorria feliz e ansiosa e a outra estava apática, como se sua mente não estivesse consigo.

- GRÁVIDA?!?!?!
- Uhum! - Suzana sabia que o agora viria aquele sorriso no rosto do namorado, que ele a abraçaria e diria que tudo vai ficar bem. Mas Juliano pôs a palma da mão direita na testa , e abriu mais a boca, numa expressão de total desacreditamento. Ele não sabia o que dizer, mas não parava de encarar Suzana. A garota começou a ficar nervosa, o sorriso, o abraço e o beijo estavam demorando demais. - Fala alguma coisa pelo amor de Deus! - disse ela.
- Isto é..... horrível.
As emoções de Suzana afloraram. Como enfermeira, sabia que a gravidez traria, alem de muitas coisas bonitas, insônia, irritabilidade, desânimo e menstruações com intervalos irregulares. Sabia que começaria a sentir coisas diferentes agora, e achava que estava preparada. Mas as três palavras proferidas por seu namorado a atingiram como um punhal traidor.

- Como assim horrível?
- Suzana, não estamos prontos pra isso, é um passo muito maior que nossas pernas.
- E o que tu espera que eu faça? Jogue o bebê em um rio?
- Claro que não, mas me diz uma coisa, tu sabe como funciona o aborto? É perigoso?

Agora ela começou a chorar. A tristeza geralmente assola os corações mais doces. Ela não conseguia entender como ele pudera pensar nisso. Como pudera ser tão insensível, tão cruel. Não parecia mais o homem pelo qual se apaixonara.
- Não me interessa se é perigoso ou não. Eu não vou abortar o meu filho.... nosso filho!
Juliano pegou suas mãos e apertou, olhou fundo nos olhos dela e disse:
- Suzana, presta atenção no que eu vou te falar. - Ela chorava quase desesperadamente - Eu te amo, e eu sei que ter um filho seria uma coisa linda, ainda mais com voce, mas eu sofro muito pra poder sustentar nós dois. Trabalho o dia inteiro, e não ganho bem o suficiente pra poder ter um filho. Eu sei que quando tu te formar vai poder nos ajudar, mas isso demoraria mais dois anos e agora não podemos ter essa criança. O dinheiro que eu consegui vendendo todos os meus livros, que significavam muito pra mim ja está acabando e moramos em um apartamento que parece uma caixa de fósforo. Com esse aumento que eu ganhei, podemos no máximo comprar o carrinho mais barato, mas como pagaremos fraldas, comida, e todas as outras despesas?
- A gente dá um jeito, eu posso voltar pra casa da minha mãe, podemos contatar seu primo de Curitiba, eles certamente poderão nos ajudar.... não importa, somos fortes, podemos criar essa criança com muito amor e carinho.
- Eu sei disso Su, mas amor e carinho não matam fome, nós dois sabemos o quanto sua mãe me odeia e o quanto ela te rejeitou por minha causa, e eu não sei do que ela é capaz se descobrir que tu terá um filho meu, e só pra ti saber, o Augusto morreu ano passado. Su, me promete que tu vai pensar na idéia do....
- EU NÃO VOU PENSAR EM NADA! - Suzana gritou, imperativamente - Não vou abandonar essa criança, está me ouvindo?! NÃO VOU! - Colocou a mão na barriga e saiu correndo para casa. Juliano não a seguiu e permaneceu sério. Gostaria de ficar ali mais dez minutos para revisitar todas as possibilidades mas tinha que voltar ao trabalho afinal, agora mais do que nunca precisaria dele. No fundo, ele queria aquela criança e estava muito feliz por isso. Mas era um homem sério e sensato, e pensando no futuro, acabou brigando com a namorada.

texto de Robson "Meteoro" Rodrigues/ CONTINUA...

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